YORUBA - VIDA E MORTE
A
participação na trama do ser humano, cujo início coincide com o
nascimento e cujo término coincide com a morte, é tido como uma parte da
existência global do homem, ser oriundo da dimensão espiritual à qual
retornará após a morte.
Nascimento e morte incluem-se entre tantos outros acontecimentos críticos da existência e são marcados por ritos de passagem.
Cada
ser humano que chega ao mundo, como um mensageiro da "outra dimensão”,
manifesta o sagrado, não sendo visto apenas como produto dos pais.
Recebido com respeito, seu nome deve ser descoberto e não inventado. Pronunciá-lo é saudar esse ser celeste e convidá-lo para habitar a sociedade dos homens.
Dentro
da religião tradicional africana, antes do nascimento da criança seus
pais consultam o oráculo de Ifá para conhecerem a procedência espiritual
do filho e ao educá-lo levam em consideração que ao educador é reservada a tarefa de favorecer o processo de saída da borboleta de sua crisálida e de zelar para que não seja sufocada antes de ver o dia. Consideram que não
é o educador que cria a borboleta com suas belas cores. Estas chegam
até ele de longe, refletem a passagem através do cosmos. Traz muito mais
do que o educador poderia lhe oferecer. Renova os que a recebem, os
rejuvenesce, restaura, regenera.
O
retorno ao mundo, à dimensão espiritual ocorre por ocasião da morte.
Iku, a morte, símbolo masculino associado ao mito da gênese do ser
humano, restitui à terra o que lhe pertence, agindo pois, como
instrumento indispensável de restituição e de renascimento
A
passagem pela morte física é marcada por ritos fúnebres complexos, de
importância fundamental para o bem-estar do ser em sua nova condição de
existência.
O ser que cumpre integralmente seu ipin ori (destino do ori), amadurece para a morte e, recebendo ritos fúnebres adequados, alcança a condição de ancestral ao passar do aiye para o orun. Em outras palavras, a pessoa somente alcança a posição de ancestral se vive uma boa vida, tem boa morte em idade avançada e recebe ritos fúnebres adequados.
Considera-se boa vida a conduzida segundo princípios morais, ocupando o caráter pessoal posição de relevância nessa conquista. Boa vida é a conduzida segundo os princípios de um bom caráter, que privilegiam interesses de ordem grupal em relação aos individuais. Boa morte é a natural, ocorrida em idade avançada.
Muitos
podem ser os destinos após a morte: o espírito pode reencarnar depois
de algum tempo, de acordo com um plano divino, efetuando um reencarne legítimo.
Outras
pessoas crêem que enquanto os prematuramente mortos continuam vagando
na terra, os de idade avançada rumam para o mundo espiritual. Outros
ainda, afirmam que pessoas más ou que sofreram má morte não encontram
lugar no mundo espiritual, necessitando prolongar suas vidas na terra.
Fantasmas dessas pessoas podem ocupar corpos de animais, répteis,
pássaros ou árvores, por não encontrarem lugar para si no mundo
espiritual.
Os
ritos fúnebres podem variar segundo a religião professada pela família
do falecido, mas a festa fúnebre é tradição respeitada por todos. Se a
pessoa morre em idade avançada é homenageada com grandes festas que,
realizadas na rua ou ruas próximas à casa.
A
festa tem início após o enterro, no dia seguinte ao da morte e pode
durar até vinte e quatro horas, com comida farta, bebida abundante e
muita dança. No terceiro dia após a morte, a família prepara bastante akara e distribui aos amigos na rua. No oitavo e quadragésimo dia repete-se os festejos, sendo o último e mais grandioso, denominado Festas Finais.
Muitos enterros são realizados na área externa da casa, na
frente, ao lado ou no quintal dos fundos. Construído o túmulo, o morto é
ali enterrado e ali permanece, perto de seus familiares.
Dados Coletados – Salami - tema morte na cultura Yorubá
Adaptado – Lokeni Ifatola
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