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D O B U R U

LENDA DE OBALUAÊ

Filho que Nanã abandou por ser doente foi criado por Iemanjá. É o irmão mais velho de Ossãe, Oxumarê e Ewá, orixá fundamentalmente Jeje, mas louvado em todas as nações, por sua importância.
Conta-se que, uma vez esquecido por Nanã, na beira do mar, fora criado por Iemanjá, que curou de suas moléstias. Cresceu forte, desenvolveu a arte da caça, tornando-se guerreiro e viajante.
Certo dia, numa de suas jornadas, chegou até uma aldeia, coberto de palha, como sempre viveu. Como todos conheciam sua fama, suas ligações com as moléstias contagiosas, fora proibido de entrar. Obaluaê, disse ao rei que apenas queria água e um pouco de comida para prosseguir viagem.
O rei não ouvindo seu pedido, determinou que fosse embora, pois não queriam contrair doenças e nem mazelas na aldeia e disse a Xapanã, como era conhecido, para ir procurar comida e água em outro lugar.
E Xapanã, então foi sentar-se no alto do morro próximo. A manhã mal começara e ele ficou, sentado, envolto em palha da costa, observando a subida do sol.
O tempo foi passando, as horas foram-se passando e, ao meio-dia, exatamente, o Sol já escaldante, tornou-se insuportável. A água ficara quente, o alimento se estragava e toda a tribo se contorcia de dor, aflição e agonia. Xapanã observava a tudo, imóvel, como um totem, como um símbolo de palha.
Na aldeia um alvoroço se fez. Uns tinham dores na barriga, outros tinham forte dores de cabeça. Outros, ainda, arrancavam sangue da própria pele, numa coceira incontrolável. Outros agiam como loucos incontrolados. Aos poucos, a morte foi chegando para alguns.
Xapanã apenas assistia…
Parecia que o tempo havia parado ao meio-dia, mas, na verdade, foram três dias de sol quente, pois a noite não chegava. Era apenas sol durante todo o tempo. E durante todo o tempo a aldeia viu-se às voltas com doenças, loucura, sede, fome e morte.
Xapanã, inerte, via tudo, imóvel…
Não agüentando mais, e vendo que Xapanã continuava do alto do pequeno morro observando, o rei de aldeia foi até ele suplicar perdão, atirando-se aos seus pés. Implorando em nome de Olorun (Criador), perdão, pois não agüentavam mais tanto sofrimento.
Neste momento Xapanã se levanta, desce até a aldeia e ao entrar e pisar na terra, esta se tornou fria, tocou na água e também a tornou fria, tocou os alimentos e tornou-os novamente comestíveis, tocou na cabeça dos aldeões e curou-lhes as doenças, tocou os mortos e lhes deu a vida outra vez.
Restaurada a normalidade da aldeia, Xapanã pediu mais uma vez ao rei que lhe dessem comida e água para que pudesse prosseguir viagem. Num instante foi-lhe servido o que de melhor havia em toda a aldeia. Deram-lhe, vinhos de palmeira, frutas, carne, legumes, cereais, enfim, o que tinham de melhor.
Voltando-se para os aldeãos, Xapanã deu-lhes uma lição de vida.
"Vivemos num só mundo. Sobre a mesma terra, debaixo do mesmo sol. Somos todos irmãos e devemos ajudar uns aos outros, para que a vida seja mantida. Dar água a quem tem sede, comida a quem tem fome é ajudar a manter a vida”.
Virou-se e partiu. Atrás dele o povo da aldeia gritava seu nome e chamando-o de Rei e Senhor da Terra, Obaluaê.


Obaluaê que sua benção e proteção nos seja dada sempre!